quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

No primeiro passo já me sinto bem vinda


Há muito tempo venho pensando uma forma para transformar em palavras os milhões de pensamentos, indagações e reflexões que pairam sobre a minha mente. Se não por isso, pelo simples fato de que escolhi seguir a carreira de jornalista, logo, o mínimo que tenho que fazer é escrever.
No entanto, já estou no terceiro ano do curso de jornalismo, e só agora criei vergonha na cara e percebi que criar um blog seria a ferramenta ideal que eu necessitava.
Entre muitos motivos que me levaram a buscar esse espaço é pelo fato que muitas vezes, certos acontecimentos não podem passar despercebido sem um breve relato. E fico imaginando o texto maravilhoso que eu poderia desenvolver se juntasse o fato com a minha (ainda pequena) percepção de mundo. Um exemplo disso foi a candidatura do Presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama. O mesmo país em que uma senhora negra chamada Rosa Parks se recusou a ceder o seu lugar no ônibus a uma pessoa branca e a partir disso, fazendo explodir diversos movimentos sociais de direitos civis alguns anos depois, elege para comandar o país mais importante do mundo em meio a tantas complicações.
Mas, além desse grande acontecimento, tenho um relato que mais me motivou (e me entristeceu), fazendo com que começasse a escrever a primeira página de muitas mil. A caminho do meu cabeleireiro, uma moça de origem humilde (e feições portuguesas) simplesmente me parou na rua e num tom que até agora estou tentando entender se era de pergunta ou afirmação disse:
- Me fala uma coisa. Você como negra poderá me dizer. NÓS os portugueses viemos para cá há muitos anos e conseguimos escravizar todos vocês. NÓS éramos dois e vocês milhões. Como vocês permitiram isso? E surpreendente com tudo o que eu ouvi, consegui apenas olhar para ela num tom de ironia e dizer: Mas quem disse que eram apenas dois? E para a minha surpresa maior ela disse: Tá bom, que fossem dez! Vocês permitiram isso e agora vem falar de direitos humanos? Façam-me o favor, né? E sem que eu pudesse continuar, ela virou as costas e saiu resmungando.
Após tê-la xingado de louca e ignorante, a única coisa que vinha a minha cabeça era indignação. Fiquei tentando entender o que poderia ter passado na cabeça daquela jovem senhora para ela ter ficado com uma vontade incontrolável de saber a resposta de uma pergunta a qual ela mesma respondeu. Pior do que isso, quantas pessoas ela já deve ter feito o mesmo que ela fez comigo? Será que ela teve algum tipo de má relacionamento com alguém afro-descendente que a fez endurecer com todos os negros, em um país em que esses mesmos negros são quase mais da metade da população? O que isso não me faz pensar que muitas outras pessoas já não fizeram o mesmo que ela?
Além de todas as perguntas feitas referentes à ela, fiz uma para mim mesma: Por que eu não reagi, antes de deixá-la escapar? Mas não. Mesmo tomada pela indignação, raiva e nervosismo, continuei meu caminho, contei a cena à todos que eu encontrava e só quando cheguei em casa, e escrevendo todas essas linhas, me lembrei de uma frase do líder Martin Luther King, uma das poucas pessoas que eu admiro, e fui dormir triste.


“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.